Ontem, 24 de março, o programa Pânico na Band apresentou uma entrevista
do pastor e deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) à repórter e
apresentadora Sabrina Sato.
No bate-papo, descontraído, o pastor respondeu às perguntas sobre as
polêmicas em que tem se envolvido e também sobre outras questões
políticas que envolvem as disputas no Congresso Nacional.
Sabrina iniciou a entrevista perguntando a Feliciano se ele havia se
casado virgem: “Eu posso não responder essa pergunta? É constrangedora…
Eu sou um ser humano normal, tenho minhas necessidades, tenho a minha
vida. Nem toda vida eu fui evangélico. Eu sou ortodoxo nesse assunto…
Pra mim, sexo [é] depois do casamento.
Sobre o ex-deputado federal Domingos Dutra (PT-MA), que ocupou o cargo
de presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) antes
dele, o pastor Marco Feliciano voltou a reforçar sua postura expressa na
entrevista à revista Veja. “No dia anterior, ele conversou comigo, e
tava tudo bem. No dia seguinte, deu aquele espetáculo. A pessoa que age
assim tem duas caras”.
Questionado sobre sua interpretação para os direitos humanos, Feliciano
lembrou de sua atuação no caso do pastor iraniano Yousef Nadarkhani:
“Você não sabe, mas foi eu que provoquei uma notícia sobre um iraniano
que estava preso no corredor da morte. Ele havia sido acusado do crime
de apostasia. Havia deixado o islã, e havia se transformado em cristão.
Eu lutei por ele aqui dentro, fui até o Itamaray, tiramos ele do
corredor da morte, o Irã perdoou ele, não morreu. Isso é direitos
humanos”.
O pastor foi perguntado sobre os dois segmentos sociais que mais estão
rendendo polêmicas em torno de seu mandato à frente da CDHM, e repetiu o
discurso que vem apresentando desde sua eleição para o cargo: “Qualquer
direito que eles tenham roubados, e procurarem a comissão, serão
ouvidos da mesma forma. Qual é o poder da Comissão de Direitos Humanos?
Ouvir, e encaminhar para o Ministério da Justiça, para os departamentos
necessários”, pontuou o pastor, que foi além na questão dos cidadãos de
etnia negra: “Existem comunidades no Brasil que são negros herdeiros da
época da escravidão, e algumas terras deles estão sendo tomadas. Temos
aqui, duas audiências públicas programadas para isso”.
Sobre sua publicação no Twitter em que abordou a maldição proferida por
Noé a seu neto, Canaã, Feliciano voltou a negar as acusações de racismo:
“Eu nunca disse que negro é amaldiçoado. 70% dos membros da igreja
evangélica brasileira são afrodescendentes. Eu sou afrodescendente”. O
pastor foi ainda perguntado hipoteticamente sobre como reagiria caso
descobrisse que uma de suas filhas se relaciona com um negro: “Se minha
filha amasse uma pessoa, de qualquer cor que fosse, eu ia respeitá-la
porque é a vida dela”.
Sabrina optou por perguntar diretamente sobre a publicação da maldição
ao descendente de Noé: “A Bíblia é um livro muito complexo. Quando eu
estava dando esse ensino pelo Twitter, uma das vertentes intelectuais
que eu citei foi essa: de que há um pensamento que o continente africano
foi formado por um dos descendentes de Noé, e esse foi amaldiçoado. Eu
nunca disse que essa era minha posição. O Twitter tem 140 caracteres só.
Não se pode falar isso ou aquilo por causa de 140 caracteres. Pra
pessoa ser racista, ela tem que ter um histórico racista”.
A repórter e apresentadora do programa Pânico na Band perguntou a
Feliciano sobre sua relação com o pastor Silas Malafaia, que
recentemente saiu em sua defesa, apesar de ressaltar que possuem
“diferenças públicas”. Marco Feliciano foi sucinto: “É um amigo, grande
líder”. Sabrina perguntou sobre a relação dele com o deputado Jair
Bolsonaro (PP-RJ), outra figura polêmica da Câmara dos Deputados, e o
pastor respondeu: “Gente boa também”. A entrevistadora então perguntou
se eles formariam o trio parada dura, e Feliciano respondeu prontamente:
“Eu sou um pouquinho diferente, sou mais tranquilo, não sou tão
briguento”.
As manifestações públicas e contrárias de artistas e outros ativistas
sobre o pastor foram abordadas pela repórter, que perguntou se não seria
melhor que Feliciano divulgasse o amor. O pastor respondeu à pergunta
contextualizando a fonte de boa parte das críticas: “Meu pessoal me
apresentou uma página no Facebook, com minha foto e mais de cem frases
racistas. E na verdade, era falso. O brasileiro tem uma cultura de ir
pela cabeça dos outros, e não procura saber a fonte”.
Sabrina voltou à questão da homossexualidade, e perguntou ao pastor qual
havia sido a verdadeira declaração dele contra a prática que havia
causado tanta repercussão: “Como deputado, eu sou um guardião da
Constituição. No artigo 226, parágrafo 13, diz assim: ‘Só é reconhecido
como casamento civil, aquele que se tornou depois de uma união estável, a
união entre um homem e uma mulher. Isso é o que está escrito na
Constituição. Qualquer luta para que isso seja ao contrário, é preciso
que seja apresentado no Congresso Nacional um projeto de emenda
constitucional”, disse, interrompido pela repórter que questionou se
Feliciano não concordava que era um direito dos homossexuais: “Direitos
sim, privilégios não. Se você quebra uma lei estabelecida aqui dentro
[Constituição Federal], você abre o presságio e quebra todas as outras”.
“Você acredita que eles têm que continuar lutando?”, perguntou Sabrina
Sato. O pastor respondeu contra-atacando: “Sim. Mas eles têm que lutar
com um pouco mais de inteligência. Tragam o projeto, coloquemos em
votação. Isso é votado pelo colegiado, e que vença o melhor argumento.
Porque esses ativistas nunca fizeram isso? Eles tem que mudar a
Constituição, para depois serem votadas as outras coisas”.
A respeito da PL 122, que prevê a criminalização da homofobia, e que
enfrenta resistência da bancada evangélica por não especificar o que
caracterizaria o crime e por ser, ao entender da maioria dos líderes
cristãos, uma tipificação de cidadão privilegiado, Feliciano afirmou que
“do jeito que está, não [pode ser votada]”, e explicou um pouco sobre
os bastidores do Congresso: “Nós já tentamos sentar com o pessoal da PL
122 para apresentar uma coisa que chegue ao bem comum de todas as
pessoas. O deputado Jean Wyllys, antes da votação, eu chamei ele ali no
cafezinho do Plenário e falei: ‘Jean, vamos tentar um diálogo?’”.
Marco Feliciano disse ainda que tenta manter um relacionamento no âmbito
parlamentar com o ativista gay e deputado federal Jean Wyllys, e
posicionou-se sobre a ameaça de processo feita por ele: “Meu
relacionamento com o Jean aqui dentro, nós sempre conversamos
amigavelmente. Mesmo ele me alfinetando sempre no Twitter. A diferença é
que o povo dele vem pra briga, e o meu povo só ora. Os evangélicos não
são contra gays, eu não sou [...] O problema não são os gays, [eles] são
gente boa. Tem um menino que mora na minha cidade, é ele que faz o
aniversário das minhas filhas, mobília minha casa, enfeita minha casa,
almoça comigo e com a minha esposa e é homossexual [...] O problema são
os ativistas. Eles recebem pra isso, e vem pra tumultuar, não vem para o
diálogo”, explicou Marco Feliciano.
O pastor revelou ainda que os ativistas que tem tumultuado as sessões da
CDHM impediram que fosse votada uma moção de repúdio ao presidente
interino da Venezuela, Nicolás Maduro, que tenta a reeleição e que já
fez declarações homofóbicas. “Pergunta se a militância deixou a gente
votar? Eles não queriam saber o que estava fazendo. Me rotularam como
homofóbico porque eu luto pelos votos que eu represento. 212 mil fiéis
evangélicos que pensam como eu”.
Perguntado sobre uma eventual renúncia ao cargo de presidente da CDHM,
Feliciano frisou que não pensa nessa opção: “Uma coisa é você dialogar
como adulto. Uma coisa é você chegar em casa e ter que explicar para uma
criança de dez anos porque que na escola falam que seu pai é racista.
Isso dói, isso machuca. Então uma renúncia minha agora, é como se eu
assinasse um atestado de confissão. ‘Eu sou mesmo, então eu estou
abandonando’. Então, eu não sou, e estou aqui para provar isso”.
Confira abaixo, a íntegra da entrevista, em que o pastor Marco Feliciano
falou ainda sobre questões teológicas a respeito do dízimo e explicou
novamente o episódio do cartão de débito:
Corintianos presos na Bolívia
Marco Feliciano afirmou que irá à Bolívia conversar com a família do
adolescente Kevin Espada, torcedor do San José e que acabou morto numa
partida contra o Corinthians, pela Libertadores da América.
O embaixador da Bolívia facilitará o encontro do deputado com os
familiares do torcedor, para que o deputado solicite à família a
retirada da queixa contra os 12 torcedores corintianos que são mantidos
presos sob a acusação de assassinato.
De acordo com a RedeTV!, o presidente da CDHM justificou a iniciativa
afirmando que a defesa de brasileiros presos no exterior sempre foi uma
prerrogativa do Congresso Nacional.
Por Tiago Chagas, Gospel+
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